Esse é um livro que se destaca na estante logo de cara, pelo projeto gráfico simples e impactante e pelo título curioso. Do que fala? Dos pensamentos e filosofias de um homem santo? De um mártir decapitado? Já adianto: fala de Samuel, um homem que viajou uma longa distância para conhecer seu pai, foi parar em uma “cidade quase fantasma” (palavras da autora) e viveu histórias fantásticas (em boa parte causadas, sim, pela cabeça de um santo).
A Cabeça do Santo é uma ficção que tem os pés firmemente plantados no chão do sertão cearense, uma narrativa forte em que a fantasia e a realidade se juntam e “prendem” o leitor.
Confesso que levei algumas páginas para me acostumar ao ambiente da história – o que não é um “problema”, muito pelo contrário: é uma demonstração de que a autora trabalha tão bem com as palavras que consegue nos transportar até o mundo que ela descreve. Sofremos, junto com o Samuel e outros personagens, com o calor, a seca, a fome… Conforme a leitura avança e damos nossos primeiros passos, nos sentimos cada vez mais imersos.
Já no primeiro parágrafo, a Socorro cria imagens fortes: “Ele não tinha mais sapatos e seus pés, àquela altura, já eram outra coisa: um par de bichos disformes. Dois animais dentados e imundos. Duas bestas, presas aos tornozelos, incansáveis, avante, um depois do outro, avante, conduzindo Samuel por dezesseis longos e dolorosos dias sob o sol”.
Depois dessa penosa caminhada, Samuel chega em Candeia, na esperança de conhecer seu pai (e assim cumprir uma promessa que fez à mãe, pouco antes de ela morrer). Sem poder contar com a hospitalidade local, ele acaba se abrigando na cabeça de uma gigantesca estátua de Santo Antônio – que, como vemos ao longo da leitura, é uma das causas da ruína de Candeia.
O livro é saboroso, tem um “gosto forte”, como se fosse um prato bem temperado e apimentado do nordeste (vocês vão notar nos “aperitivos” ao final do post). Bem diagramado, tem um projeto gráfico muito bonito, à altura do que esperamos da Companhia das Letras. O final é surpreendente e não decepciona.
A Cabeça do Santo é um dos melhores livros que li esse ano, e um dos melhores de literatura brasileira que já li. O fato de a autora ser uma pessoa muito querida, profissional competente e carinhosa com seus amigos e leitores é também um ponto muito positivo que merece destaque.
Por sinal, o livro também foi lançado no exterior (essa outra versão que vocês veem nas fotos é da Inglaterra)! Chique, não?
Deixo apenas duas “ressalvas”: há um ou outro elemento “adulto” na trama, e o clima da história é meio pesado de modo geral (embora tenha diversos momentos de descontração); por isso, talvez não seja indicado para crianças ou leitores mais jovens. Dito isso, deixo minha recomendação final: Leiam e saboreiem!
APERITIVOS:
“Candeia era quase nada. Não mais que vinte casas mortas, uma igrejinha velha, um resto de praça. Algumas construções nem sequer tinham telhado, outras, invadidas pelo mato, incompletas, sem paredes. Nem o ar tinha esperança de ser vento. Era custoso acreditar que morasse alguém naquele cemitério de gigantes.
O único sinal de vida vinha de um bar aberto. Duas mesas de madeira na frente, um caminhão, um homem e uma mulher na boleia ouvindo música, entre abraços, beijos e carícias ousadas. Mais desolado e triste que Juazeiro do Norte aquele povoado, muito mais. Em Juazeiro tinha gente, a cidade era viva. E no meio daquele povo todo sempre se encontrava uma alma boa como a de sua mãe, uma moça bonita, um amigo animado. Candeia era morta. Pior ainda naquela hora, quando até o sol iniciava o seu funeral de todos os dias.”
(p. 17)
“Seu nome era Francisco e tinha treze anos. Descobrira o esconderijo havia um ano, mais ou menos, e ia lá em segredo desde então. Arranjava as revistas com o caminhoneiro que sempre parava no Bar da Candeia e se divertia quando podia, enchendo o cérebro do santo com seus devaneios de adolescente. Contou tudo assombrado, com medo das perguntas de Samuel.
Estava meio escuro, não dava pra ver direito. Ninguém de Candeia entraria naquela cabeça, Francisco imaginou, deveria ser forasteiro, fugido da polícia, assassino, pior tipo de marginal (…).
— Tu é bandido, tu?
– Ainda não, mas quero matar gente que é do meu ódio.
– Tá fugindo da polícia?
– Ainda não.
– Tá fazendo o quê, aqui?
– Vim atrás do diabo do meu pai, mas quero ir embora logo. Só não fui ainda por causa dessa ferida na perna. Não vou morar no teu castelo, não, pode deixar.”
(p. 35)
ISBN 9788535923698 Editora Companhia das Letras Nota 5/5 Páginas 168
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Rah Gameiro
GUI já to desejando muito este livro preciso. ;D
Mel as fotos sempre incrível .
Amei o post dupla dinâmica <3
Beijos <3 :D
Gui
É um livro que merece um lugar na sua coleção e no seu histórico de leituras!
Fico feliz que tenha gostado do post, Rah :D
Jessica Belotto
Amei muito as fotos e a resenha!! O capa e a diagramação das duas edições do livro são muito lindas *—* Estou muito apaixonada! A história, apesar de eu ter achado um pouco forte, parece ser muito interessante e criativa. Fiquei bem curiosa para ler e com certeza pretendo fazer isso logo :). Suas resenhas são ótimas Gui! E as fotos ficaram incríveis também! :) <3
Gui
Obrigado, Jé! Espero que o sabor “forte” do livro lhe agrade – e, mesmo que não seja o caso, já deixo recomendado os outros livros da autora!
Nicole Oliveira
Lindas fotos. Ótima resenha! Fiquei com muita vontade de ler esse livro. ?
Gui
Que bom, Ni! Espero que leia e goste tanto quanto eu gostei \o/
Andre Luiz
Esse foi o único livro da Socorro que li, mas me deixou com muita vontade de ler outras obras dela. A narrativa me prendeu e me emocionou por algumas boas horas. Uma boa surpresa de 2015!
E adorei o capricho que os ingleses tiveram com esse livro! Essas gravuras transmitem bem o cenário e o contexto do livro, mas acho que ainda prefiro essa fotografia da edição nacional.
abraço, gui*
Gui
Também ainda não li outros, Andre… até onde sei, são mais voltadas ao público infanto-juvenil feminino – e foram escritos com o mesmo capricho, não tenho dúvida!
Fiquei surpreso com as ilustrações da edição inglesa. Acho que caberiam bem na nacional
Valeu, Andre!
Adeeh Mello
Livro bem interessante. Pelas palavras do aperitivo me interessei ainda mais, eu gosto de livros fortes e que consiga fazer você ver exatamente o que estava acontecendo imaginando e vivendo aquilo tudo. Gostei bastante. Abraço ♥
Blog Sorriso de Vida, clique e saiba mais!
Gui
Que bom, Adeeh! Aproveito pra recomendar o livro Mugido de Trem, escrito pelo jornalista Nilson Monteiro. É uma coletânea de contos, escritos com essa linguagem “forte” de A Cabeça do Santo
Abraço!
Raquel German
Adorei o post! Fiquei super curiosa com o livro! Já quero comprar :D
Gui
Eeeee! Fico muito feliz! 8D
Bruna
Adorei essa resenha, gosto muito desses posts, mas confesso que sentia falta de resenhas de livros mais “adultos”.
O Gui mandou bem no texto, e as fotos estão lindas!
Gui
Que bom que gostou, Bru! Em breve farei mais uma resenha de livro “adulto” (Objetos Cortantes, da Gillian Flynn) :D
Zayra
Que lindo o novo layout do blog, combina muito com você Mel. Amei. Bjs : *
Gui
Combina mesmo, Zayra! Dá um destaque especial para as fotos (que são justamente um dos pontos fortes da Mel)
Liu
Amei a resenha, as fotografias… Pela resenha acredito que seja um livro muito bom e já está na minha lista de desejos. Amei o trabalho que fizeram na capa desse livro ❤️ (Ah! E no blog também! ?).
Beijos!!
Gui
Fico muito feliz que tenha gostado, Liu! Eu e a Mel sempre fazemos com muito carinho posts “em conjunto”
Emma
Este livro parece ser incrível, fiquei curiosa para ler. E o Spock como sempre, um amor ♥
:*
Gui
Spock de vez em quando resolve “roubar a cena” nos posts!
Adriel Romanno Florentino
Amei a resenha, deu vontade de ler o livro inteiro, vou ver na livraria perto de casa pra ver se tem pra vender ou qualquer coisa compro online :)
bjos
http://www.sasadiromanno.com/
Gui
Fico feliz, Adriel, e espero que goste da leitura! \o/
Karin de Oliveira
Nossa, comprei esse livro há 2 semanas e estou louca para lê-lo, Gui.
Eu não fazia ideia da sinopse e adorei a forma como você descreveu o livro. Fiquei com mais vontade de ler.
O título realmente chama a atenção
A Socorro Acioli é um amorzinho, muito atenciosa e carinhosa com seus leitores.
Avisa a Mel que as fotos ficaram muito lindas.
Mil beijos
Gui
Tenho certeza de que vai gostar, Karin! Fico feliz que a resenha tenha animado você a ler :D
Enquanto lia, imaginava a Socorro contando a história, com aquele sotaque adorável. É uma autora muito querida, e isso realmente anima o leitor!
Vou repassar o elogio à Mel. Ela sempre tira as fotos com bastante capricho, e fica especialmente feliz com o feedback dos leitores!
Elton Cardoso
Bem, eu sou um daqueles leitores fantasmas, acompanho todos os post, fico babando nas fotos da Mel e na qualidade dos posts, mas desta vez me senti motivado a deixar de ser fantasma e escrever um comentário. Gui, adoro suas resenhas, a maneira que você escreve flui de uma maneira tão natural, você fala sobre os livros que leu de uma maneira tão única que sempre me dá vontade de ler todos os livros que foram resenhados por você, independente se você gostou deles ou não. Enfim, continuem com o trabalho maravilhoso de você e deixa eu voltar ao mundo sobrenatural e voltar a ser um fantasma rsrs
PS: Mel, o novo layout do Serendipity está simplesmente lindo, está em sintonia com sua vida atual – assim como você mencionou no post dedicado ao novo layout -, e em sintonia com suas fotos do Instagram também, está tudo mais clean, mais objetivo, mais Mel. Parabéns!
Gui
Elton, fiquei especialmente feliz porque um post meu te motivou a suspender temporariamente o status de “fantasma” e vir comentar! Se que, com a correria, nem todo leitor tem tempo e/ou paciência para deixar um comentário, e esse é um dos motivos pelos quais me sinto tão satisfeito quando leio comentários!
Andei meio sumido do blog nos últimos meses, mas agora devo retomar a rotina que perdi, e voltar com os posts semanais
A Mel vai ficar feliz em ler seu feedback sobre o layout!
Não suma! (hehehe)
sara
Mel tô achando o layout do blog com a letra clara demais, fico incomodada pra ler, tenho que forçar a vista. Não sei se foi só eu que achei, mas fica ai a dica
Gui
Sara, quem escreveu esse post (e, portanto, quem cuida dos comentários dele) fui eu, não a Mel. Vou repassar seu feedback pra ela – acho que já foi feito um ajuste a essa altura
Isabela Libório
Gui, essa resenha ficou incrível, parabéns! A Socorro me conquistou completamente em A Bailarina Fantasma e tô louca pra ler A Cabeça do Santo também, certeza de que não vai me decepcionar. Essas edições são lindas demais e as fotos ficaram tão lindas quanto, nossa.
Gui
Que bom que gostou, Bela! Pelos comentários que vi sobre os outros livros, a Socorro realmente se garante :D
Rafaela Viana
Mel :D adorei esse post do Gui, mas cadê o book haul ? :'( buá buá
Gui
O planejamento da Mel é secreto hehehe :B
Que bom que gostou do post, Rafa!